terça-feira, 20 de novembro de 2012

Um novo romance em construção


Lembro-me perfeitamente
do dia em que a vi pela primeira vez.
Apaixonei-me.

Em seu rosto, uma mutilação.
Parte de sua orelha decepada ficava visível.
Em lugar do cabelo você tinha um lenço
florido a cobrir o alto de sua cabeça.
Nunca tentei imaginar
como você ficaria se tivesse cabelos.
Sempre preferi os lenços com estampa de flores.

Nenhuma outra mulher havia me atraído tanto quanto você.
Tendo entender porque.
E compreendo.

Você era imperfeita.
Linda, mas imperfeita.
Seu rosto era carregado de tragédias.
Bastava encará-la para poder identificar
Resquícios de uma tragédia.
Assim como eu, você trazia um selo de identificação.

Éramos monstros a sobreviverem
num mundo certinho demais, que sempre desprezei.
Eu te amei e você correspondeu o meu amor.

Uma pena que acabou.
Uma pena...
- mike sullivan -

terça-feira, 6 de novembro de 2012

ESCRITAS DA FINITUDE

Com certeza, o melhor livro que li este ano. "A passagem tensa dos corpos", de Carlos de Brito e Mello foi a grande surpresa de 2012.



Construído de forma original, com 156 capítulos curtos, A passagem tensa dos corpos trata de um tema consagrado, a morte, com uma abordagem e ambientação surpreendentes.
O narrador-personagem, figura indefinível e incorpórea, não é visto nem percebido por ninguém. Sua principal ocupação é percorrer cidades e registrar as mortes que encontra pelo caminho. Numa dessas localidades, há um morto insepulto, cuja família não parece disposta a velar ou enterrar. Como se nada tivesse acontecido, o cadáver é mantido amarrado à cadeira na mesa da sala, a esposa e a filha se ocupam dos preparativos para o casamento da menina, e o filho do morto permanece trancado no quarto.
Se a civilização se ergue sobre uma pilha de cadáveres soterrados, também a vida de cada um precisa da morte para se constituir. Diante da situação surreal testemunhada na casa, o narrador aos poucos se dá conta de que para existir de fato, necessita, ele mesmo, se apropriar de um dos corpos que registra.
Carlos de Brito e Mello lança mão de uma linguagem fragmentada e precisa para imprimir ao romance um andamento trepidante e acelerado. Ironia e humor negro bem medido também compõem esta narrativa sobre a morte e sua relação com a memória, a linguagem e o ofício de narrar.


sábado, 27 de outubro de 2012

MEU NOVO LIVRO PRONTO!!!


        Com Ester tão perto, sentindo de leve um aroma que sua proximidade favorecia, Adriano Louback fantasiou: os dois juntos morando numa casa de um cômodo só, um grande salão, rodeados por estantes e mais estantes de livros; apenas um colchão a compor a arrumação miserável que os intelectuais adoram proclamar; ele, sentado numa escrivaninha teclando com elegância numa velha máquina de escrever; ela, despojada sobre o colchão, nua, com belas coxas à mostra, fumando um cigarro e se deliciando com uma taça de vinho a observá-lo em silêncio; ele então daria algumas pausas de vez em quando para admirá-la ali no chão esperando pelas próximas páginas, esperando por ele quando finalmente pudesse interromper o processo para se jogar em seus braços; seria feliz se assim fosse – só os dois. Terminariam sempre juntos à noite depois de sexo, leituras em voz alta, críticas; seria importante apenas agradá-la com suas histórias, ninguém mais. Nada lhes faria tanta falta. Arte, sexo, cigarro e bebida. Tudo o que a mente precisa para fugir da ansiedade, da frustração e da sensação constate de que sempre está faltando alguma coisa. Acordou de seus devaneios através dos grandes olhos notáveis de Ester que sorria e o inquiria em busca de mais detalhes de sua fantástica história. Nesse instante ele sentiu-se uma pessoa irreal, um personagem. Faltava narrar a grande virada espetacular que mudou tudo em sua vida.

RESENHA:

Eis os protagonistas deste livro: um estupro, uma criança com paralisia cerebral (e que, misteriosamente, deixa de crescer aos dois anos de idade), uma profunda depressão e o amor (o abstrato e simbólico amor) como única fonte de cura, perdão e redenção.


Para aqueles que irão se aventurar por essa história, o melhor seria não adiantar nada ou quase nada do que se passa nesse livro. A surpresa que se dá a cada página e com o desenrolar da trama é o maior mérito de Mike Sullivan, algo que pode ser observado nos outros dois romances que escreveu: “Retorno ao Pó” e “No Vale de Ossos Secos”.

O autor define a experiência de ler seu livro como o embarque numa montanha russa às escuras, onde o leitor nunca sabe onde se dá a próxima queda e a que profundidade essa queda o levará.

Numa trama bem arquitetada, que se apresenta com variações entre tempo presente e tempo passado, esse romance promove um renovo à linguagem literária brasileira, com uma narrativa inteligente que se preocupa com a condição psicológica de cada personagem (seus abismos, seus conflitos). É como estar diante de uma história incompleta que vai se fechando na medida em que se avança por ela. As peças são dadas aos poucos. Nesse sentido, o leitor sente-se também um participante ativo na construção do enredo. 

R$ 35,00
396 páginas
ISBN: 978-85-7984-460-7
Os interessados devem entrar em contato por e-mail:
mikesullivann@yahoo.com.br

sábado, 20 de outubro de 2012

TENHO FANTASMAS NA CABEÇA


Numa pequena cidade do interior
nasce o escritor.

A lua está cheia.
Uma enchente varre tudo o que vê pela frente.
Um terremoto do outro lado do mundo deixa vítimas.
Um pregador no norte, a crer no fim do mundo,
Faz com que uma multidão cometa suicídio coletivo
e também se mata ao final.
O mundo não acaba.

Uma criança prematura.
Pouco peso, indefesa.
Internada por dias numa maternidade cheia de ratos.

Os ratos e as bostas dos ratos
o seguiriam por todos os cantos.
Não só os ratos, mas todos os sinais deixados
Por aquela noite.

Muitos disseram que não ia vingar.
Muitos atribuíam aos sinais
o fato da criança ter crescido esquisita, estranha.
Muitos tinham medo.

Uma feiticeira diria ao jovem escritor,
anos mais tarde,
que todas os suicidas da noite do seu nascimento,
encontram-se ao redor dele,
a sussurrarem intermináveis histórias,
a se arrependerem continuamente.
Dirá ainda que são esses espíritos
que o estimulam a escrever,
a contar interessantes histórias.
A materialização no papel
é a única forma de ganharem vida novamente.

O escritor não acreditará.
Em pouca coisa acredita.
Mas essa hipótese o atormentará um pouco mais.

Verdade ou mentira,
ele tem fantasmas na cabeça.

Tenho fantasmas na cabeça. 
E bosta de rato no chão do meu banheiro. 
Sei que eles estão aqui a me observar.


domingo, 7 de outubro de 2012

Resenha do meu livro NO VALE DE OSSOS SECOS, por Thayane Gaspar


Só descobri que este livro era um romance quando cheguei no fim. Gosto de livros assim, pois me remetem a vida real, onde não sabemos quem será nosso par na última página da nossa vida.
 No vale de ossos secos é um livro intenso que se passa na monótona rotina de um homem de cinquenta anos, Ruy Dantas. O livro começa pelo fim, Ruy já com os seus 82 anos recebendo o prêmio Nobel de Literatura, mas o prêmio pode esperar, pois antes dele o personagem tem uma experiência incrível 30 anos antes.
Em meio ao tédio e a solidão, Ruy Dantas descobre que sua vida não é a vida que se espera de um homem de mais de 50 anos. Separado, com uma filha recém-casada, um emprego estável, Ruy acha que o tempo de ser feliz já expirou, começa a reunir arrependimentos, e a sentir-se necessidade de se aproximar da morte, afinal, não é ela que está vindo logo ali na frente?
Depois de várias canecas de café, Ruy é assolado por ideias inusitadas, decide cumprir três tarefas para ressuscitar o desejo de estar vivo. Ele não só cumpre as três tarefas, como são elas que definem o motivo de este senhor estar vivo.
Numa dessas tarefas, Ruy Dantas se envolve numa situação delicada. Ele acaba conhecendo uma criança com leucemia chamada Melinda e se comove, sua comoção e o destino o coloca no caminho da mãe da menina, Virgínia. Realmente tocado pela história, Ruy tenta fazer algo por elas, mas na minha opinião, a tristeza delas é que fizeram alguma coisa por ele.
Suas tarefas trazem à tona lembranças do passado numa sincronicidade perfeita. Com relatos da infância, contados em primeira pessoa, ficamos atraídos pela história de vida e consequência dela. Conseguimos até identificar nos capítulos escritos em primeira pessoa o crescimento do personagem, e seu amadurecimento em ordem cronológica.
Temos que dividir nossos corações entre presente e passado, pois somos instigados a entender o significado dos encontros acidentais de Ruy e Virgínia em cada tarefa.
Em um misto de crise existencial, questionamentos filosóficos, crítica a religião e medo da morte, torcemos não só que Ruy Dantas seja feliz como invejamos um pouco o romance com o qual se envolveu. Além de concordarmos inteiramente com o merecimento do prêmio Nobel anos depois.
O autor é brasileiro e psicólogo  e em cada capítulo nos identificamos um pouco com a dura tarefa de ser feliz e não se arrepender de nada.

sábado, 29 de setembro de 2012

CINE-CULT APRESENTA: DECÁLOGO V



Dia 03/10 às 19:00h:
Filme: DECÁLOGO V - “NÃO MATARÁS”
Um assassinato brutal une três personagens: um desocupado, um taxista e um advogado idealista. Posteriormente transformado no longa-metragem homônimo.

Local: Espaço GLIA - Cultura e Aprendizagem
          Rua Dr. Nilo Peçanha - 142 - Ingá
          Tel: (21) 3601-2092

Ingresso: R$ 20,00.

DECÁLOGO é um conjunto de filmes inspirados nos dez mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares.

Vencedor do Prêmio da crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, DECÁLOGO consagrou Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental e indispensável.

Após a exibição do filme haverá um debate mediado pelo psicólogo e escritor Mike Sullivan.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Trecho do meu novo livro



           O fogo que iria resplandecer seria capaz de devolver-lhe a vida que antes queimava, ardia e inundava todo o seu ser? Belizário Veiga estava parado em frente à casa de Sebastiana, do outro lado da rua, como se alienado estivesse a tudo à volta. Entre seus dedos úmidos um cigarro desaparecia. Em sua cabeça, a inundação quente do encontro com Ester no dia anterior, suas repetidas frases de ódio e morte. Dias antes já havia se entregado a um funeral prematuro de sua alma, quando pensou que nada mais nesse mundo pudesse devolver-lhe as chances de sobrevida que tanto inflamaram o seu ser em tempos atrás. Agora, prestes a cometer um ato que poderia, pois bem, poderia acender novamente a chama do candeeiro que apagou nem se sabe ao certo porque. E de novo, ao dar uma última tragada, a pergunta se repetia em sua mente: o fogo que iria resplandecer seria capaz de devolver-lhe a vida que antes queimava, ardia e inundava todo o seu ser?
            Olhou para ambos os lados, atravessou sem pressa, amparou suas mãos na madeira áspera, velha e corroída do portão a pender para um dos lados como se estivesse quase a cair. Ele rangeu quando empurrado de leve e Belizário retraiu-se. Um passo atrás foi dado. Olhou fundo para a casa silenciosa. Só o que viu foi uma sombra idêntica a de um personagem visto antes somente em suas histórias infantis. A sombra de um velho modorrento, com uma lamparina de azeite na mão esquerda, com voz de assombro, dentes tortos e uma solidão que o fazia ceifar da face da terra, todos os dias, incontáveis almas. Esse mesmo ser de imagem cruel, mas necessária ao nosso mundo limitado de caber tanta gente, foi visto por Belizário a rondar os limites da casa onde iria adentrar em poucos instantes. A alucinação, ou o pensamento de estar louco, conferiu a ele a certeza de que, mesmo que não desse inicio ao incêndio, de nada adiantaria, pois o monstro ceifador de almas já estava de prontidão para recolher ao reino dos espíritos mais um número incontável de seres viventes. Ninguém pode fugir quando chega o seu dia de morrer.

sábado, 15 de setembro de 2012

CINE-CULT APRESENTA: DECÁLOGO IV

Dia 19/09 às 19:00h.
Filme: DECÁLOGO IV - “HONRARÁS PAI E MÃE”
O relacionamento afetuoso entre um viúvo e sua filha de 20 anos sofre alterações quando esta descobre, por meio de cartas escritas pela mãe, que ele não é seu verdadeiro pai.


Local: Espaço GLIA - Cultura e Aprendizagem
          Rua Dr. Nilo Peçanha - 142 - Ingá
          Tel: (21) 3601-2092

Ingresso: R$ 20,00.

DECÁLOGO é um conjunto de filmes inspirados nos dez mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares.

Vencedor do Prêmio da crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, DECÁLOGO consagrou Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental e indispensável.

Após a exibição do filme haverá um debate mediado pelo psicólogo e escritor Mike Sullivan.

sábado, 1 de setembro de 2012

CINE-CULT APRESENTA: DECÁLOGO III


Dia 05/09 às 19:00h:
Filme: DECÁLOGO III - “GUARDARÁS DOMINGOS E FESTAS SAGRADAS”
Um homem de família abandona seus deveres, na véspera de Natal, para ajudar uma ex-amante que está em crise.


Local: Espaço GLIA - Cultura e Aprendizagem
          Rua Dr. Nilo Peçanha - 142 - Ingá
          Tel: (21) 3601-2092

Ingresso: R$ 20,00.

DECÁLOGO é um conjunto de filmes inspirados nos dez mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares.

Vencedor do Prêmio da crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, DECÁLOGO consagrou Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental e indispensável.

Após a exibição do filme haverá um debate mediado pelo psicólogo e escritor Mike Sullivan.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O CINE-CULT APRESENTA: DECÁLOGO II



Dia 29/08 às 19:00h:
Filme: DECÁLOGO II - “NÃO INVOCARÁS O SANTO NOME DE DEUS EM VÃO”
Mulher engravida do seu amante e resolve abortar, caso seu marido, gravemente doente, se recupere.

Local: Espaço GLIA - Cultura e Aprendizagem
          Rua Dr. Nilo Peçanha - 142 - Ingá
          Tel: (21) 3601-2092

Ingresso: R$ 20,00.

DECÁLOGO é um conjunto de filmes inspirados nos dez mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares.

Vencedor do Prêmio da crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, DECÁLOGO consagrou Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental e indispensável.

Após a exibição do filme haverá um debate mediado pelo psicólogo e escritor Mike Sullivan.

domingo, 19 de agosto de 2012

DÉCALOGO, de Kieslowski


“Decálogo”, do grande diretor polonês Krzysztof Kieslowski, é um projeto difícil de classificar e árduo de descrever. Foi filmado em 1988, em formato de minissérie para a TV polonesa.
A ideia inicial do cineasta era fazer um pequeno filme sobre cada um dos Dez Mandamentos. O projeto partiria de uma reflexão mais ampla a respeito da decadência dos valores católicos em uma Polônia transformada durante o século XX em terra devastada, pelos nazistas, e depois em território de ateísmo obrigatório, pelos comunistas. Enquanto escrevia as histórias, contudo, Kieslowski mudou de ideia. Retirou todas as referências à política, ao tempo e ao país, e deu dimensões mais universais à narrativa.
O formato é virtualmente perfeito para introduzir o espectador num dos projetos mais densos e belos já formatados para a TV. “Decálogo” é Kieslowski – o último dos grandes cineastas europeus a beber na fonte do existencialismo, a exemplo de Bergman e Antonioni – na plenitude de seus poderes de dramaturgo. Nas dez histórias, todas ambientadas em um conjunto residencial de Varsóvia, pessoas comuns enfrentam problemas cotidianos que se manifestam em diversas camadas de significados. Nas histórias, Kieslowski propõe uma discussão livre sobre temas universais da condição humana: amor, culpa, solidão, amizade, tristeza, ética, medo.
O fio narrativo comum é o espaço em que as tramas se desenrolam. O conjunto de apartamentos, com sua arquitetura monótona típica dos países do Leste europeu, sugere que, dentro de cada uma daquelas janelas, um drama universal e, ao mesmo tempo, particular se desenrola. Kieslowski sugere ter escolhido, quase aleatoriamente, dez dessas histórias para narrar.
“Decálogo” é cinema em um nível de excelência que não existe mais, obrigatório na coleção de qualquer cinéfilo que se interessa pelos mistérios da natureza humana.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

“CINE CULT – PARA VER E PENSAR”

O projeto abrirá com a exibição da monumental obra “DECÁLOGO”, do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, dividida em 10 episódios de 50 minutos.

DECÁLOGO é um conjunto de filmes inspirados nos dez mandamentos. Ambientadas no mesmo condomínio de Varsóvia, capital da Polônia, as histórias ilustram conflitos morais e dramas familiares.

Vencedor do Prêmio da crítica Internacional no Festival de Cinema de Veneza, DECÁLOGO consagrou Kieslowski. Uma obra simplesmente monumental e indispensável.

Dia 15/08 às 19:00h:
Filme: “AMARÁS A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS”
Um menino de 10 anos fica dividido entre a crença científica do pai, um professor universitário, e a fé religiosa de sua tia.

Após a exibição do filme haverá um debate mediado pelo psicólogo e escritor Mike Sullivan.

Local: Espaço GLIA - Cultura e Aprendizagem
          Rua Dr. Nilo Peçanha - 142 - Ingá
          Tel: (21) 3601-2092

Nas palavras de Kieslowski:
“Desde os meus primeiros filmes, sempre tenho contado a história do homem que, por achar difícil se orientar neste mundo, não sabe como viver.”

domingo, 22 de julho de 2012

Uma pequena degustação do meu novo livro: Amor em tempos de solidão.



Observou com carinho e em silêncio o homem a sua frente, um bom marido, um caráter exemplar que soube amá-la apesar de toda a pobreza de onde foi tirada, sua ignorância inicial, seu ódio velado que muitas vezes não soube esconder totalmente. Ele seria a pessoa mais indicada para ouvi-la nesse momento. Com sua capacidade de analisar os fatos, Adriano Louback com certeza lhe daria conselhos adequados. Mas isso só se fosse um amigo, alguém não atingido diretamente pelas suas verdades. Adriano Louback ia além de um simples amigo. É certo que quando se casou com ele não o amava. Munida de um único objetivo que era conseguir meios reais de vingança e ascensão para um novo mundo de poder e riqueza, Ester se juntou a Adriano Louback. Porém, o tempo foi generoso com ambos, transformando a relação num jogo de respeito que não tardou muito a se transmutar em amor. Por que então não contava a verdade? Ester analisava que toda mentira tem um prazo de validade para ser revelada a tempo de que todos os envolvidos possam perdoar o ato. Expirado o prazo, a mentira descoberta provoca apenas mágoa, resignação e nenhuma chance de perdão. É por isso que ela teme contar tudo, não somente sobre o filho escondido, mas o romance com Belizário Veiga, seus planos de vingança quando se casou e o mais grave de todos, o assassinato de Sebastiana Conraz.

domingo, 15 de julho de 2012

caminhos...


Busco caminhos...
Busco caminhos sem nem ao menos
Saber para onde pretendo ir.
Desejaria que eles me levassem
Para qualquer outro lugar que não este onde me aniquilo.

Tenho medo de ficar apenas num só lugar.
Penso que se estagnar numa só estação de sentimentos
É privar-se de alcançar novas maneira de se viver.
É não se permitir surpreender-se com o desconhecido.

Mas tantas vezes quis prender-me num lugar apenas.
Quantas vezes a paisagem vista da janela
Foi a única cidade para onde viajei.
Quantas vezes morri de medo ao pensar no dia seguinte.

Penso em partir e o tempo gasto em arrumar a mala
É a desculpa que preciso para desistir.
Penso em ficar.
E de novo penso em partir.
Levar apenas uma mochila
É o que me motiva mais uma vez a partir.
Só que me estremeço
Com a possibilidade de, na mochila,
Não caber tudo o que é preciso.

Nessas horas penso que alguns versos de Fernando Pessoa seriam o suficiente.
E nesse instante me vêm à mente Valter Hugo Mãe, Clarisse Lispector,
Mário Quintana, Bartolomeu Campos de Queiroz, Caio Fernando Abreu
E tantos outros que habitam o meu isolamento.
Nessas horas penso que minha biblioteca inteira teria de me seguir.

O que me aprisiona?
Sob meus pés, o assoalho de madeira range
em forma de gemidos desafinados e agudos,
lembrando-me vozes a gritarem diretamente do inferno.

Em meu apartamento,
Sou apenas eu e a distância que me separa do mundo.
Ficando ou partindo...

- mike sullivan - 

terça-feira, 3 de julho de 2012

paixão...


O coração sempre há de nos guiar
por caminhos onde ele próprio 
ficará perdido depois.
Em meio à paixão, nos perdemos completamente.

- mike sullivan - 

sábado, 30 de junho de 2012

isolamento


a sensação de não-pertencimento a este mundo 
provoca em mim diversas dores. 
primeiro por se tratar de uma afirmação incontestável 
e segundo por ser o suicídio a única esperança
 que se apresenta diante de tamanho desconforto.
 mas como escreveu caio fernando abreu, 
a vida grita. e a luta, continua.
- mike sullivan - 

o mundo e eu


hoje acordei com a sensação
de que poderia enfrentar o mundo.
lá pelo meio do dia cresceu em mim
a vontade de não somente enfrentá-lo, 
mas sim dominá-lo.
porém, ao anoitecer, vi que, 
para além de enfrentar ou dominar o mundo,
é mais importante buscar sempre
uma reconciliação com ele e com a vida.
- mike sullivan -

por amor...


Se dissesse que hoje morreria,
Você me pediria para desistir?

Enquanto penso na morte,
Solitário nos braços de uma poltrona,
Só penso em como seria,
Caso me implorasse para viver a qualquer preço.

Um vinho já quente na mão esquerda.
Me sinto petrificado
Com o cigarro quase a apagar entre os dedos.
O rosto em direção à porta
Tentando tornar realidade
A fantasiosa imagem sua,
Com seus olhos grandes e sempre sinceros
A me olhar com piedade e também com amor.

Enquanto penso na morte,
Tudo é breu, mórbido, fúnebre, irrisório, pequeno.
Nada à volta faz-me sentir melhor do que outrora fui.

Numa tortura sem fim, sou forçado a voltar no tempo,
Quando encarei seus olhos frios, gelados, vazios,
surpreendentemente ausentes de emoção mais forte.
Quando simplesmente decretou o fim.
Não houve gritos, choro, acesso de raiva, desespero.
A culpa, a desilusão, o desamor foi o que perdurou.
Às vezes olho à volta
E tenho a sensação de que
Toda a minha vida não passa de
Uma farsa, uma mentira.
Tudo que fiz de nada adiantou.
Hoje não sou uma pessoa melhor do que fui
E essa triste constatação de nada adianta para reverter o caso.

Mesmo assim, sigo confiante,
Esperando sua entrada triunfante nesse lugar.
Por você, eu desistiria de morrer.
Com você, eu nunca teria um fim triste.

- mike sullivan - 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

metafísico...


sonhar é sentir-se no alto, a voar.
sonhar é uma forma de transcender a realidade
que torna a vida mais rígida, menos fantasiosa e mais sofrida.
procure sonhar sempre.
sonhar é o meio pelo qual a alma ultrapassa as barreiras
intransponíveis da limitação corporal. 
sonhar é metafísico!

- mike sullivan -

quinta-feira, 28 de junho de 2012

ilusões...



deite-se ao meu lado na cama
a noite escura lá fora, a palidez mórbida em meu rosto
pede apenas sua companhia
sua estadia, sem pressa, em meu quarto.

coloque o dedo em meus lábios.
não permita que diga nada.
o silêncio será mais agradável do que
a confusão de palavras entre nós dois nos últimos dias.

tape meus olhos.
sussurre o que quiser próximo ao meu ouvido
tens liberdade para me conduzir a outras instâncias.
faça-me viajar
por qualquer caminho onde a tristeza de viver só
não me atormente mais.

seja minha companhia.
ao menos essa noite, não vá embora.
tenho certeza de que, ao acordar,
mesmo tendo a mais nítida impressão de
que seu corpo grudado ao meu foi um sonho,
eu terei em meu pensamento a doce ilusão
dos seus braços a me tocar,
da eterna lembrança de não te perder jamais.

- mike sullivan – 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

às vezes, triste...




estar deprimido torna o mundo e 
as pessoas completos desconhecidos. 
ao menos retira de nós tudo aquilo que 
achávamos conhecer sobre a vida.

- mike sullivan -


sexta-feira, 22 de junho de 2012

escolhas



Fique triste quando não puder evitar.
Diga que ama a quem de fato ama.
Faça amigos a perder de vista,
Mas não se prenda a pessoas
Que nada acrescentam.

Fique só para aproveitar a própria companhia.
Faça o que tiver vontade.
Arrependa-se o menos possível.
Porque uma vida sem arrependimentos
É praticamente impossível!

Fale o que pensa,
Mas opte pelo silêncio
Quando o diálogo não for interessante.
Nem todos estão preparados para te ouvir.

Cante ainda que desafinado.
Sorria em frente ao espelho.
Seu rosto será sempre seu reflexo imediato.

Chore quando sentir saudades.
Existem pessoas que partiram cedo demais.
Ignore a auto-censura em demasia.
Procure ser mais leve.
Mesmo quando tiver a impressão
De que todas as dores do mundo
Estão sobre seus ombros.

Pule de alegria quando ouvir no rádio
Uma música que lhe lembre dias do passado.

E não se esqueça de que:
O amor é imperfeito.
A vida é imprevisível.
Mas a escolha é sempre nossa.

- mike sullivan - 

domingo, 17 de junho de 2012

equilíbrio


a vida deve ser vivida com equilíbrio,
agregando valores a partir das interações sociais,
da utilização correta do amor,
da busca incessante pela paz e
pela leveza conquistada por meio
do bom relacionamento consigo mesmo.
isso tudo só é possível a partir de reflexões diárias
e da fé em viver um tempo de cada vez.

às vezes é preciso fazer uma parada
para descarregar da ‘mochila’
as tristezas e mágoas do passado
que não contribuirão em nada e, também,
para voltar os olhares para dentro de si mesmo
e perceber que, apesar de tudo,
seu corpo e sua mente continuam sendo uma coisa só
e interagindo com o mundo a todo o momento.

basta um olhar diferenciado para o ambiente ao redor
e sensibilidade para extrair de toda experiência aquilo
que importa para a satisfação, o crescimento
e o bem estar da alma.

gostaria que todos aprendessem e refletissem
sobre a idéia central de que
a vida é um aprender a morrer.

- mike sullivan - 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

solidão, de mike sullivan


sempre temi a solidão.
para abrandar o medo
permiti que se formasse entre nós
uma sólida amizade.

e como bons amigos,
as vezes precisamos nos distanciar
cansamos um do outro
tanto eu como ela fazemos jus
a um renovo de vez em quando.

assim como nas amizades mais leais,
depois de muito tempo sem nos vermos
voltamos a nos falar
de onde concluo que somos inseparáveis.

por ser leal a mim
me diz coisas que não quero ouvir
mas com lágrima vejo em sua face
puras verdades.

é ao lado dela que minha produtividade literária
me surpreende com uma vontade
intensa de escrever sobre tudo
sobre meus mais íntimos sentimentos.

depois ela vai embora de novo
a oportunidade de fazer novas amizades,
mas como todo bom escritor,
sinto sempre a necessidade de voltar correndo para os seus braços.

o ajuntamento de gente ao redor
as vezes me congela os pensamentos,
retira de mim o isolamento
para por no papel as mais eloquentes fantasias.

sempre nos vemos refletidos nos olhos de um bom amigo.
com a solidão não é diferente.
no mais íntimo encontro entre nós,
quando se deita ao meu lado na cama
e aproxima seu rosto do meu,
posso ver no clarão dos seus olhos de fogo
a minha essência refletida, sem máscaras,
momentos de infinitude, de dor,
de sofrimento, de fidelidade,
de pacto para a eternidade.
momento em que sou mais eu,
em que me vejo por completo,
em que me realizo nas páginas em branco
que se colocam diante de mim.

só posso definir a solidão
como uma amiga fiel.

solidão, agora, amiga minha.

terça-feira, 22 de maio de 2012

metade, de oswaldo montenegro

escrevo para saciar minha fome e angústia existencial.
sou metade...
metade sempre...
numa eterna busca pelo esplendor humano, pelo sublime...
por isso vos apresento uma das poesias mais lindas que já li e ouvi.
assistam também o vídeo logo abaixo da letra.

metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.