sábado, 20 de outubro de 2012

TENHO FANTASMAS NA CABEÇA


Numa pequena cidade do interior
nasce o escritor.

A lua está cheia.
Uma enchente varre tudo o que vê pela frente.
Um terremoto do outro lado do mundo deixa vítimas.
Um pregador no norte, a crer no fim do mundo,
Faz com que uma multidão cometa suicídio coletivo
e também se mata ao final.
O mundo não acaba.

Uma criança prematura.
Pouco peso, indefesa.
Internada por dias numa maternidade cheia de ratos.

Os ratos e as bostas dos ratos
o seguiriam por todos os cantos.
Não só os ratos, mas todos os sinais deixados
Por aquela noite.

Muitos disseram que não ia vingar.
Muitos atribuíam aos sinais
o fato da criança ter crescido esquisita, estranha.
Muitos tinham medo.

Uma feiticeira diria ao jovem escritor,
anos mais tarde,
que todas os suicidas da noite do seu nascimento,
encontram-se ao redor dele,
a sussurrarem intermináveis histórias,
a se arrependerem continuamente.
Dirá ainda que são esses espíritos
que o estimulam a escrever,
a contar interessantes histórias.
A materialização no papel
é a única forma de ganharem vida novamente.

O escritor não acreditará.
Em pouca coisa acredita.
Mas essa hipótese o atormentará um pouco mais.

Verdade ou mentira,
ele tem fantasmas na cabeça.

Tenho fantasmas na cabeça. 
E bosta de rato no chão do meu banheiro. 
Sei que eles estão aqui a me observar.


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