sábado, 27 de outubro de 2012

MEU NOVO LIVRO PRONTO!!!


        Com Ester tão perto, sentindo de leve um aroma que sua proximidade favorecia, Adriano Louback fantasiou: os dois juntos morando numa casa de um cômodo só, um grande salão, rodeados por estantes e mais estantes de livros; apenas um colchão a compor a arrumação miserável que os intelectuais adoram proclamar; ele, sentado numa escrivaninha teclando com elegância numa velha máquina de escrever; ela, despojada sobre o colchão, nua, com belas coxas à mostra, fumando um cigarro e se deliciando com uma taça de vinho a observá-lo em silêncio; ele então daria algumas pausas de vez em quando para admirá-la ali no chão esperando pelas próximas páginas, esperando por ele quando finalmente pudesse interromper o processo para se jogar em seus braços; seria feliz se assim fosse – só os dois. Terminariam sempre juntos à noite depois de sexo, leituras em voz alta, críticas; seria importante apenas agradá-la com suas histórias, ninguém mais. Nada lhes faria tanta falta. Arte, sexo, cigarro e bebida. Tudo o que a mente precisa para fugir da ansiedade, da frustração e da sensação constate de que sempre está faltando alguma coisa. Acordou de seus devaneios através dos grandes olhos notáveis de Ester que sorria e o inquiria em busca de mais detalhes de sua fantástica história. Nesse instante ele sentiu-se uma pessoa irreal, um personagem. Faltava narrar a grande virada espetacular que mudou tudo em sua vida.

RESENHA:

Eis os protagonistas deste livro: um estupro, uma criança com paralisia cerebral (e que, misteriosamente, deixa de crescer aos dois anos de idade), uma profunda depressão e o amor (o abstrato e simbólico amor) como única fonte de cura, perdão e redenção.


Para aqueles que irão se aventurar por essa história, o melhor seria não adiantar nada ou quase nada do que se passa nesse livro. A surpresa que se dá a cada página e com o desenrolar da trama é o maior mérito de Mike Sullivan, algo que pode ser observado nos outros dois romances que escreveu: “Retorno ao Pó” e “No Vale de Ossos Secos”.

O autor define a experiência de ler seu livro como o embarque numa montanha russa às escuras, onde o leitor nunca sabe onde se dá a próxima queda e a que profundidade essa queda o levará.

Numa trama bem arquitetada, que se apresenta com variações entre tempo presente e tempo passado, esse romance promove um renovo à linguagem literária brasileira, com uma narrativa inteligente que se preocupa com a condição psicológica de cada personagem (seus abismos, seus conflitos). É como estar diante de uma história incompleta que vai se fechando na medida em que se avança por ela. As peças são dadas aos poucos. Nesse sentido, o leitor sente-se também um participante ativo na construção do enredo. 

R$ 35,00
396 páginas
ISBN: 978-85-7984-460-7
Os interessados devem entrar em contato por e-mail:
mikesullivann@yahoo.com.br

sábado, 20 de outubro de 2012

TENHO FANTASMAS NA CABEÇA


Numa pequena cidade do interior
nasce o escritor.

A lua está cheia.
Uma enchente varre tudo o que vê pela frente.
Um terremoto do outro lado do mundo deixa vítimas.
Um pregador no norte, a crer no fim do mundo,
Faz com que uma multidão cometa suicídio coletivo
e também se mata ao final.
O mundo não acaba.

Uma criança prematura.
Pouco peso, indefesa.
Internada por dias numa maternidade cheia de ratos.

Os ratos e as bostas dos ratos
o seguiriam por todos os cantos.
Não só os ratos, mas todos os sinais deixados
Por aquela noite.

Muitos disseram que não ia vingar.
Muitos atribuíam aos sinais
o fato da criança ter crescido esquisita, estranha.
Muitos tinham medo.

Uma feiticeira diria ao jovem escritor,
anos mais tarde,
que todas os suicidas da noite do seu nascimento,
encontram-se ao redor dele,
a sussurrarem intermináveis histórias,
a se arrependerem continuamente.
Dirá ainda que são esses espíritos
que o estimulam a escrever,
a contar interessantes histórias.
A materialização no papel
é a única forma de ganharem vida novamente.

O escritor não acreditará.
Em pouca coisa acredita.
Mas essa hipótese o atormentará um pouco mais.

Verdade ou mentira,
ele tem fantasmas na cabeça.

Tenho fantasmas na cabeça. 
E bosta de rato no chão do meu banheiro. 
Sei que eles estão aqui a me observar.


domingo, 7 de outubro de 2012

Resenha do meu livro NO VALE DE OSSOS SECOS, por Thayane Gaspar


Só descobri que este livro era um romance quando cheguei no fim. Gosto de livros assim, pois me remetem a vida real, onde não sabemos quem será nosso par na última página da nossa vida.
 No vale de ossos secos é um livro intenso que se passa na monótona rotina de um homem de cinquenta anos, Ruy Dantas. O livro começa pelo fim, Ruy já com os seus 82 anos recebendo o prêmio Nobel de Literatura, mas o prêmio pode esperar, pois antes dele o personagem tem uma experiência incrível 30 anos antes.
Em meio ao tédio e a solidão, Ruy Dantas descobre que sua vida não é a vida que se espera de um homem de mais de 50 anos. Separado, com uma filha recém-casada, um emprego estável, Ruy acha que o tempo de ser feliz já expirou, começa a reunir arrependimentos, e a sentir-se necessidade de se aproximar da morte, afinal, não é ela que está vindo logo ali na frente?
Depois de várias canecas de café, Ruy é assolado por ideias inusitadas, decide cumprir três tarefas para ressuscitar o desejo de estar vivo. Ele não só cumpre as três tarefas, como são elas que definem o motivo de este senhor estar vivo.
Numa dessas tarefas, Ruy Dantas se envolve numa situação delicada. Ele acaba conhecendo uma criança com leucemia chamada Melinda e se comove, sua comoção e o destino o coloca no caminho da mãe da menina, Virgínia. Realmente tocado pela história, Ruy tenta fazer algo por elas, mas na minha opinião, a tristeza delas é que fizeram alguma coisa por ele.
Suas tarefas trazem à tona lembranças do passado numa sincronicidade perfeita. Com relatos da infância, contados em primeira pessoa, ficamos atraídos pela história de vida e consequência dela. Conseguimos até identificar nos capítulos escritos em primeira pessoa o crescimento do personagem, e seu amadurecimento em ordem cronológica.
Temos que dividir nossos corações entre presente e passado, pois somos instigados a entender o significado dos encontros acidentais de Ruy e Virgínia em cada tarefa.
Em um misto de crise existencial, questionamentos filosóficos, crítica a religião e medo da morte, torcemos não só que Ruy Dantas seja feliz como invejamos um pouco o romance com o qual se envolveu. Além de concordarmos inteiramente com o merecimento do prêmio Nobel anos depois.
O autor é brasileiro e psicólogo  e em cada capítulo nos identificamos um pouco com a dura tarefa de ser feliz e não se arrepender de nada.