Temas abordados em RETORNO AO PÓ

TEMAS ABORDADOS: a finitude humana, processos de luto, consciência sobre um tempo limite de vida e a construção de nossa existência influenciada pelas perdas.

DISCUSSÕES: Qual seria a melhor resposta para dar conta de todos os significados que envolvem a morte? Talvez essa seja uma das mais antigas questões que tomaram o tempo de muitos filósofos e até o momento nada de muito concreto nos é revelado, a não ser que tudo o que se pode dizer sobre a morte encontra-se no campo da subjetividade, da fé e das crenças individuais ou compartilhadas. Como escreveu Kant: “A razão não pode dar conta de questões as quais ela não sofreu a experiência”. 

A morte, principalmente na cultura ocidental, é um tema tabu e é com assombro e temor que algumas pessoas se aventuram na difícil tarefa de tecer comentários. Apesar de ser uma das maiores certezas da vida, a morte desperta curiosidade, mistério e funciona como mola-mestra de profundas reflexões para muitos autores.

Filósofos, psicólogos, romancistas e pensadores fizeram da finitude humana a inspiração necessária para seus escritos e deixaram, além de suas próprias conclusões, um campo aberto para novas perspectivas. Na área da filosofia e da psicanálise temos e escritor Ernest Becker, autor do livro “A Negação da Morte”, trazendo a tona a idéia intrigante e esclarecedora de que o medo da morte está presente em todos os seres humanos, definindo-a dessa maneira como um “desespero universal”. 

No contexto hospitalar, temos a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross e autora do livro “Sobre a morte e o morrer”, que a partir de uma pesquisa minuciosa junto a pacientes terminais pontuou as cinco fases pelas quais percorre um indivíduo ao receber um diagnóstico fatídico. Essas fases são: a negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Para Elisabeth, esses pacientes trazem consigo um único benefício: a oportunidade de organizarem seu próprio fim, não deixando questões pendentes, principalmente, junto aos familiares. A doença em si é o tempo necessário para abstrações e aceitação do fim de um tempo de vida.

Para citar um autor brasileiro, é louvável falar sobre o Doutor Dráuzio Varella e seu brilhante livro “Por um fio”. Sua obra aborda a mudança de posicionamento em relação à própria vida ocorrida em pacientes diagnosticados com uma doença terminal. Nesse aspecto, o simples torna-se complexo, aquilo nunca antes visto passa a ser notado com extrema vontade e puro deleite da apreciação despropositada. Nesses pacientes, a vida ganha um novo olhar e conseqüentemente, um valor mais alto é creditado ao simples fato de existir e viver de maneira resistente enquanto puder.

Tomando esses autores como referência, que de maneira competente deixaram seus relatos e pontos de vista sobre o assunto, tomei a liberdade de também lançar uma nova luz ao tema, utilizando como ferramenta a arte – literatura. A idéia é tornar os indivíduos conscientes de sua própria finitude, valorizando a existência, se empenhando em projetos que verdadeiramente valem a pena e caminhando rumo ao crescimento e auto-realização. Nesse sentido, a morte sai do vale das sombras do inconsciente e entra no cotidiano das pessoas como elemento chave para proporcionar leveza e intensidade ao viver enquanto houver o que viver.

Meu livro foca na questão das perdas sofridas ao longo da vida e no quanto elas refletem na construção do viver. Estamos o tempo todo perdendo algo. Meu livro traz histórias de pessoas que tiverem suas vidas influenciadas pelas perdas.