Temas abordados em NO VALE DE OSSOS SECOS

TEMAS ABORDADOS: o dilacerante confronto com os mistérios a cerca da existência (quem somos, de onde viemos e para aonde vamos) e os sentimentos inerentes à vida humana: liberdade, angústia e solidão.

DISCUSSÕES: A religião está presente em todo o mundo, difundida de maneira diferente entre os povos conforme a cultura na qual está inserida e da qual faz parte. De acordo com a experiência pessoal e coletiva, a religião parece estar ligada de forma irremediável à condição humana. É um atributo da natureza humana encontrar consolo e refúgio na religião. O medo da morte, a dor da vida precisam de Deus e da fé n’Ele, sejam quais forem suas manifestações, para que as pessoas sigam vivendo. Dessa maneira, a religiosidade se apresenta como relevante na constituição do ser e nas diversas maneiras de dar significado à existência e ao sofrimento.

                           Assim como a religião, a arte também faz parte constituinte da vida de qualquer indivíduo. Religião e arte são indispensáveis ao ser humano, pois tanto uma como a outra permitem aliviar o desassossego constante da alma. Através das duas é permitido transcender-se, libertar-se do aprisionamento mortal do corpo, enxergar mundos invisíveis, idolatrar o amor, fantasiar sobre o absurdo fato de existir ante a caótica imensidão do universo que nos rodeia.

                           A angústia sai do campo da patologia, um lugar onde sempre pareceu estar, para entrar no cenário humano como parte constituinte do sujeito. É como defini-la como a sensação de incompletude. Somos seres angustiados por natureza, pois somos jogados à vida sem precedentes que nos conduzam ao bom caminho, vivemos apenas rodeados por mistérios sem respostas: de onde viemos, para onde vamos, quem somos? Pensar a fundo no absurdo da existência é ser tomado por forte descarga de angústia. Por isso nossa mente tenta fugir desses devaneios, tentando compensar nosso espírito com outras coisas, dando maior importância ao ter do que ao ser.

                           Grande parte da angústia advém da liberdade do ser humano. O homem é um ser totalmente livre, responsável por todos os seus atos, escolhas e resoluções. Isso é angustiante por que pensar assim nesse caso é dizer que não há como colocar a culpa em ninguém, nem em Deus e muito menos em outras pessoas. Nós, seres humanos somos os únicos responsáveis por todos os caminhos traçados e por tudo o que compõe a nossa existência.

                           Talvez a solidão seja a responsável por despertar o desejo por uma busca desenfreada e desesperada de ser amado pelo outro, como se resumisse todo o objetivo de uma vida inteira. Mas relações humanas também são solitárias, pois não há como ter acesso ao campo subjetivo do outro e ter assim a certeza do seu amor por nós. Do nosso amor é possível ter certeza, mas o amor do outro é algo inatingível. É preciso entender que por mais que estejamos rodeados de pessoas, isso não afasta em hipótese alguma a triste resolução de que somos seres solitários desde o nascimento até a morte. Não se deve colocar no outro a solução de todos os nossos problemas. Deve-se antes de tudo estabelecer uma relação sólida com a nossa essência, sem medo. Definir o nosso lugar no mundo e como desejamos viver neste espaço estabelecido. No mais, a existência é recheada por percalços dos mais variados tipos. Só o que podemos fazer é aceitar que estamos vivos e se relacionar com tudo o que se apresenta diante de nós. Nosso destino vai sendo traçado pelas perdas ao longo do caminho, a morte de outras pessoas, o abandono de coisas que de repente deixamos de acreditar, a decepção de mundo e ao fim morrer, sem ter a certeza definitiva de para qual lugar essa morte nos leva.