Numa determinada região do país, um Pastor, a crer no fim do mundo,
convence um número expressivo de pessoas a cometerem suicídio coletivo após a
pregação formal, exortação de palavras de melhores dias e abandono definitivo
desta vida. Diz que o mundo está perto do fim. Nada mais sobrará. Todos se
matam com uma bebida de origem desconhecida, mas de gosto amargo, cortante, que
queima por dentro quando se espalha pelo estômago.
Ao chegarem do outro lado, as almas
têm de esperar numa antessala de cor acinzentada, fria, com ventos brandos,
incessantes. Estão sentadas a curta distância umas das outras. Cabisbaixas, não
possuem nenhuma paisagem onde fixar o olhar. Nenhuma definição existe para os
minutos seguintes. Isso se qualquer medição do tempo houver. Tudo parece parado
em alguma espécie de torpor. Sem som, sem movimento, sem respiração, sem cor,
pouca luz.
Cada alma terá de passar por um
interrogatório. Devido ao suicídio, não poderão adentrar imediatamente o paraíso
supremo onde elas desejam a todo custo descansar. Uma figura de palidez mórbida
entra e avisa com voz baixa que elas terão de conceder esclarecimentos ao anjo analista.
Uma explicação será dada. Deverão prestar um depoimento devendo ser o mais sincero
possível, ainda que nenhuma garantia haja de conseguirem absolvição.
Os depoimentos selecionados para
este livro pertencem às almas isentas de discurso religioso. O fanatismo
proclamado pela maioria maciça dos demais suicidas foi ocultado para não tornar
este romance uma narrativa de falas repetitivas e tediosas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário