Numa
pequena cidade do interior
nasce
o escritor.
A
lua está cheia.
Uma
enchente varre tudo o que vê pela frente.
Um
terremoto do outro lado do mundo deixa vítimas.
Um
pregador no norte, a crer no fim do mundo,
Faz
com que uma multidão cometa suicídio coletivo
e
também se mata ao final.
O
mundo não acaba.
Uma
criança prematura.
Pouco
peso, indefesa.
Internada
por dias numa maternidade cheia de ratos.
Os
ratos e as bostas dos ratos
o
seguiriam por todos os cantos.
Não
só os ratos, mas todos os sinais deixados
Por
aquela noite.
Muitos
disseram que não ia vingar.
Muitos
atribuíam aos sinais
o
fato da criança ter crescido esquisita, estranha.
Muitos
tinham medo.
Uma
feiticeira diria ao jovem escritor,
anos
mais tarde,
que
todas os suicidas da noite do seu nascimento,
encontram-se
ao redor dele,
a
sussurrarem intermináveis histórias,
a
se arrependerem continuamente.
Dirá
ainda que são esses espíritos
que
o estimulam a escrever,
a
contar interessantes histórias.
A
materialização no papel
é
a única forma de ganharem vida novamente.
O
escritor não acreditará.
Em
pouca coisa acredita.
Mas
essa hipótese o atormentará um pouco mais.
Verdade
ou mentira,
ele
tem fantasmas na cabeça.
Tenho
fantasmas na cabeça.
E
bosta de rato no chão do meu banheiro.
Sei
que eles estão aqui a me observar.
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